Com o intuito de alertar de que o tempo que melhor vivemos é aquele que vivemos com qualidade, nasce o projecto “Saber Viver”.

É de realçar que os idosos de hoje foram os jovens de ontem e, como tal, eles são portadores de imensas memórias que constroem a sua história de vida. Nessas memórias estão presentes os filhos que tiveram e criaram, assim como todos aqueles que participaram na sua vida. É neste contexto, e porque eles tudo fizeram para que os seus soubessem viver o presente, que nós enquanto seus descendentes temos de lhes mostrar que a vida contínua. Que existem muitas coisas que eles podem fazer e em que podem participar, de forma a melhorar a sua vida, não deixando apenas passar os anos.

Neste sentido, desenvolvemos o nosso projecto com a Santa Casa de Misericórdia de Portalegre, a fim de oferecer aos seus utentes novas experiências, de criar dinâmicas que apelam à criatividade, e ao mesmo tempo despertar o interesse da comunidade de Portalegre para assistir ás potencialidades desta geração.

Assim, o projecto assenta na elaboração de trabalhos manuais a realizar com os idosos, actividades desportivas, momentos de leitura e jogos tradicionais, para que numa etapa final todas esta actividades (bens e serviços em termos de Mercado da Solidariedade) sejam partilhadas e conjugadas com mais duas instituições de Portalegre (o Internato Distrital da Nossa Senhora da Conceição e Centro Popular dos Trabalhadores dos Assentos), a partir do Mercado da Solidariedade.


Fotografias da Intervenção

20 de maio de 2008

Descrição do Projecto

O Projecto "Saber Viver" será desenvolvido durante a tarde de 31 de Maio de 2008, contemplando o Mercado da Solidariedade, no pátio da Escola Superior de Educação de Portalegre.

O Mercado da Solidariedade é uma experiência que consiste em trocas, com recurso a uma “moeda social”, ou seja, dinheiro simbólico. Existe no mercado um clube de trocas que consiste; em grupos que se organizam para trocar os seus produtos e serviços mas deixando de lado o dinheiro oficial. Neste mercado existem duas limitações, nem sempre quem necessita de um bem o pode trocar por outro bem, e nem sempre os produtos e serviços trocados têm valor equivalente. Para que essas dificuldades sejam superadas existe uma “outra moeda” que vai substituir o dinheiro oficial, chamada moeda social. Esta moeda tem como objectivo gerir as trocas realizadas entre os clubes, de forma a evitar os problemas que foram abordados na descrição do Projecto Solidariedade Cidadã.

Neste sentido, o Mercado da Solidariedade irá dividir-se em quatro fases, uma primeira fase irá incidir na apresentação de todos os participantes do mercado, de seguida haverá trocas de serviços entre as instituições (o Internato Distrital da Nossa Senhora da Conceição e Centro Popular dos Trabalhadores dos Assentos), para que todos participem. Já numa terceira fase iremos realizar a troca de bens entre as instituições participantes através da moeda social, que é representada por um cartão com uma ou duas mãos. No encerramento do mercado contaremos com a participação do Rancho Folclórico e Cultural da Boavista.

Objectivos

  • Valorizar as capacidades, competências, saberes e cultura dos idosos, a fim de aumentar a sua autoconfiança e auto-estima;
  • Dar a conhecer novas actividades que visem estimular o idoso;
  • Fazer com que o idoso continue a sentir-se integrado na comunidade, dando-lhe a oportunidade de mostrar o que continua a ter para oferecer;
  • Proporcionar momentos mais harmoniosos, atractivos e dinâmicos com a participação e envolvimento dos idosos;
  • Sensibilizar para a importância da solidariedade, através da criatividade, de forma a combater o isolamento;
  • Promover a ligação, através da solidariedade, entre instituições com diferentes necessidades;
  • Mostrar à comunidade a importância dos idosos nas nossas vidas.

Metodologia

De forma a elaborar um Projecto bem estruturado que responda às necessidades dos participantes, foram várias as etapas que delineámos. Primeiramente, investigámos qual o historial da instituição e como funciona hoje (horários de funcionamento, espaços disponíveis e recursos materiais e humanos). O próximo passo foi conhecer os utentes da instituição, as suas características, os seus princípios e valores, a sua cultura, as dificuldades que sentem, as capacidades, os gostos pessoais, etc. Já numa terceira etapa, tivemos conhecimento das actividades que são desenvolvidas na instituição com os seus utentes.

Foi através da articulação de toda uma investigação e de encontros regulares na Santa Casa da Misericórdia de Portalegre que partimos para a elaboração dos nossos objectivos de trabalho. Assim, participando, reflectindo e avaliando, o Projecto “Saber Viver” foi ganhando asas alcançando um resultado final, o Mercado da Solidariedade.

Nesse contexto, começámos a trabalhar com os utentes da Santa Casa, a fim de preparar todos os instrumentos para o dia do desenvolvimento do nosso projecto final.

O resultado final irá desenvolver-se com mais dois grupos, que participaram na formação Solidariedade Cidadã, e que estão a trabalhar com a sua comunidade e/o instituição em Portalegre.

Em paralelo, cada grupo está a estudar e a verificar quais os bens e serviços que tem para oferecer através da instituição. Neste seguimento, cada grupo partilha a informação da sua instituição e/ou comunidade de forma a organizar o mercado.

Contextualização Teórica

"Se por um lado, a participação é um dos objectivos fundamentais da Animação Sociocultural, por outro, o objectivo principal é a mudança nos indivíduos". (BENTO, 2003, p.118) A descrição anterior permite-nos declarar que a Animação Sociocultural deve actuar de forma a garantir o desenvolvimento, a participação e a dinamização da comunidade através do indivíduo, garantindo assim a mudança social.

Esta deve procurar agir num processo que implique o crescimento social, cultural e económico, tendo como ponto de partida a participação do outro. Logo, para que hajam essas melhorias há que procurar “acções criativas, através de projectos regionais de desenvolvimento, devidamente contextualizadas, dentro de uma perspectiva que contemple o projecto global da sociedade (social, cultural, educativo, político, económico)”. (LOPES, 2006, p.294)

É neste contexto, que podemos dizer, que ao falarmos de Animação Sociocultural estamos automaticamente a abordar o conceito de Animação Comunitária, visto que, “Encaramos a Animação Comunitária como uma forma de acção sociopedagógica que visa a transformação social, o desenvolvimento através da participação. (…) surge-nos como tecnologia social que tem a sua fundamentação nas diferentes Ciências Sociais…”. (Bastos e Neves, in LOPES, 2006, p.375).

Quando referimos a dimensão tridimensional da Animação Sociocultural no que respeita às suas estratégias de intervenção, salientamos a dimensão etária: a infantil, juvenil, adultos e terceira idade. É neste contexto, e porque o Homem vai sofrendo alterações naturais como a diminuição das capacidades físicas (exigindo-lhe a alteração dos hábitos e rotinas que são substituídos por actividades com menor grau de dinamismo ou mesmo de inactividade), que se torna fundamental assegurar as condições de bem-estar do idoso em parceria com a animação, através da promoção de actividades que visem estimular o idoso, de forma a valorizar o elo com a comunidade, família e amigos.

Para contrariar a ideia de que os lares e centros de dia são autênticos depósitos de pessoas possuidoras de sensibilidade, de memória, de experiências e vivências, os programas de Animação Sociocultural de cariz cultural, recreativo, social e educativa, tornam-se necessários, a fim de; promover a ocupação dinâmica do tempo livre, evitando o tempo de ócio prolongado; valorizar as competências, saberes e cultura do idoso, de forma a aumentar a sua auto-estima e autoconfiança; incentivar o idoso à inovação e à descoberta; valorizar a importância da formação ao longo da vida; proporcionar ao idoso uma vida mais activa e atractiva.

Ao falarmos de um território que vai ao encontro de alguns problemas semelhantes aos de São Brás, seria de todo interessante pegar numa das experiências realizadas no Projecto São Brás Solidário e desenvolvê-la com a nossa instituição (experiências de que tivemos conhecimento a partir do Projecto Solidariedade Cidadã).

A realização do Mercado vai ser um exemplo para aos participantes e para a comunidade, em geral, de que é possível existirem trocas de produtos e serviços sem ser para enriquecer, visto que, todas as pessoas podem oferecer algo seu ou de si sem ser o dinheiro. Desta forma, também iríamos conseguir atingir todos os nossos objectivos.

Completando, a felicidade de cada um só depende da forma como encaramos a vida e a vivemos, o nosso projecto mostra um pouco de como isso é possível. Saber viver está implícito em todas as idades, e se nós enquanto animadores tivermos a consciência de que há formas bem mais simples de levar a vida, que façam os outros sentirem-se mais felizes e úteis, e se conseguir-mos colocá-las em prática, então estamos num bom caminho para melhorar a qualidade vida de muitas pessoas.

Historial e Caracterização

Existe um leque de historial sobre a Santa Casa da Misericórdia de Portalegre, contudo achámos pertinente focar apenas os pontos mais importantes que nos guiem até aos dias de hoje.

A Misericórdia surgiu em Portalegre, segundo o autor Rodrigues Gusmão, em 1501 possuindo a sua sede inicial no antigo templo de S. João Baptista, na Rua da Figueira.

Porém, como descreve António Lino Neto, alguns anos antes da criação da Misericórdia já existia uma albergaria ao fundo da Rua Direita. Esta terá sido criado por dedicação da Confraria de Nossa Senhora do Castelo, ou da Alegria, que posteriormente terá desaparecido para dar lugar à Fundação da Casa da Misericórdia.

O primeiro provedor da Casa da Misericórdia foi Lopo Ribeiro, filho de Lopo Lopes Ribeiro, que decidiu mudar a Misericórdia para o Rossio, onde ainda hoje se situa, na Avenida da Liberdade 24/6.

Esta instituição tem como principal objectivo praticar a Solidariedade Social, estando dotada de oito valências:
  • LAR – Tem capacidade de albergar 78 utentes colectivamente em situação temporária ou permanente.
  • CENTRO DE GRANDES DEPENDENTES – Centro colectivo, para idosos em situação de dependência, alojados temporária ou permanentemente. Tem capacidade para 19 utentes.
  • LAR RESIDÊNCIAL – Tem capacidade de alojar 10 jovens maiores de 16 anos e adultos, portadores de deficiência.
  • CENTRO DE DIA – Dá a oportunidade ao idoso de permanecer no seu seio familiar, podendo passar o dia na instituição, onde usufruem de um conjunto de serviços. Tem capacidade para 20 utentes.
  • APOIO DOMICILIÁRIO – Presta cuidados alimentares, higiene pessoal e habitacional e trata da roupa de 80 utentes na sua habitação própria.
  • APOIO DOMICILIÁRIO INTEGRADO – Presta cuidados de saúde no domicílio de 16 utentes.
  • CENTRO COMUNITÁRIO DOS ASSENTOS – Tem o objectivo de construir um pólo de Animação entre os seus utentes, com vista à prevenção de problemas sociais e ao desenvolvimento local. Desenvolvem serviços e actividades de forma articulada abraçando uma população de 50 utentes.
  • UNIDADE DE APOIO INTEGRADO – Apoia os que, por avaliação da Equipa de Cuidados Integrados necessitam de cuidados temporários, globais e integrados a pessoas que sofrem de dependência mas, que não carecem de cuidados clínicos em internamento hospitalar. É domiciliário e tem a capacidade de apoiar 10 utentes.

Plano de Actividades 2008

Este plano de actividades foi elaborado pela Técnica de Animação Educativa e Sociocultural da Santa Casa da Misericórdia de Portalegre, e será aqui transcrito por nós abreviadamente. As actividades que integram este plano são supervisionadas também pela Técnica acima referida.

  • Actividades recreativas e de lazer;
    - Visita a museus, monumentos, bibliotecas, cinema e teatro, concurso de dominó e cartas;
    - Secções de leitura de contos, poemas e jornais;
    - Elaboração de um jornal de parede.
  • Jogos (tradicionais e de mesa);
  • Passeios – realização de passeios a diversos locais;
  • Encontros temáticos. Ex. “No meu tempo era assim…”;
    -Tertúlia, os idosos são convidados a falar como era, no seu tempo;
    - O Natal; A escola; A vida em família; A educação; Os passatempos; O namoro; Os sonhos de adolescente/jovem/criança; O casamento; A vida a dois; O passado, presente e futuro.
  • “ Sinais de outros tempos…”;
    - Exposição de fotografias antigas, locais, acontecimentos de outras eras (…), anexa as mesmas, legendas, devidamente identificadas;
    - Os encontros temáticos de psicogerontologia têm principais objectivos:
    ­ * Desenvolver imagens mais positivas relativamente a este período da vida;
    ­ * Desmistificar determinadas ideias, crenças e medos relativamente ao envelhecimento;
    ­ * Melhorar a qualidade de vida dos idosos.
  • Participação em festas calendarizadas (Carnaval, Páscoa, Natal, Festas dos Santos Populares, Dia do Pai, Mãe e Avós, etc.);
  • Participação de convívios e/ou festas promovidas pela Instituição ou outras instituições;
  • Jogos de treino da memória:
    - Surge como resposta a uma das características da população idosa, que é a “falta de memória”, tendo como objectivo fazer com que esta perca, não se verifique e se possa recuperar, tentando motivar os idosos para a prática de alguns exercícios, tornando-os aliciantes e com resultados de melhorias, que eles mesmos podem observar, para que possam treinar a sua capacidade amnésica. Em primeiro lugar os próprios utentes irão recortar das revistas pessoas, objectos, matérias, receitas, etc… Seguidamente vão encadernar todo esse material que será usado no dia do treino de memória.
  • Actividades Desportivas - expressão corporal, caminhadas, passeios, actividades de mobilidade, orientadas por um professor.
  • Atelier de arte e artesanato – vamos continuar com actividades diárias como os bordados, rendas e malha, macramé e fada do lar. Incremento mensal de uma actividade nova, que paralelamente a estas acima referidas farão parte do quotidiano dos nossos utentes.


Actividades específicas por meses:


Janeiro – Restauração das molduras que foram oferecidas à instituição, com o auxílio da técnica da pintura, de colagem, verniz, etc…
Fevereiro – Técnica do guardanapo;
Março – Moldagem do barro;
Abril – Pintura em Barro;
Maio – Pintura em tela;
Junho – Reciclagem;
Julho – Trabalhos em pedra;
Agosto – Decoração em vidro;
Setembro – Trabalhos em serapilheira;
Outubro – Trabalhos em velcro;
Novembro - Trabalhos com latas de reciclagem;
Dezembro – Trabalhos em madeira e cortiça.